Uma linha no fundo da agulha
cerzindo uma chuva miúda
em obstinado silêncio
vasculha
as ausências traspassadas
no sonâmbulo dedo
que vagueia pelo alçapão da memória
Ocultando consigo
as teias dos naufrágios da linha
pouco a pouco engolfa
no equilíbrio do fundo o tecido
de cetim negro
ziguezagueante agulha
na imersão da linha desenha
formas de diagramas da vida.
Enternecida a linha tolda a vista.
Nossa, José Carlos!
ResponderExcluirUm poema grandioso, comentá-lo é se perder nas
palavras desnecessárias...
Adorei o sentir poético (uma beleza encantadora), a
forma estrutural e a filosofia presente nele.
Internamente me apropriei como se fosse meu, de
tanto que gostei...
Lembraste um amigo meu, o Poeta Audálio Alves (já falecido)
que fez parte da Academia de Letras de Pernambuco.
Grata por esta leitura preciosa!!
Abraço de paz.
Escrito com bastante ternura, lembrou-me Penélope de Ulisses, na Odisseia.
ResponderExcluirPoema enorme, José Carlos. Maravilhoso esse sentir. Cerzindo vamos passando a vida a limpo e encobrindo o que não podemos mudar. Adorei!
ResponderExcluirBeijinho, querido.
Levou-me a refletir e me encantou!!! Parabéns por seu enorme talento e sensibilidade! abraço, ania..
ResponderExcluirLembrei-me de uma cena que era constante na nossa casa quando a minha avó começava a bordar suas lindas toalhinhas de bandeja, um barrado numa toalha ou uma gola para colocar num vestido, sentada confortavelmente numa cadeira de balanço. Eu, com os meus 10 anos, a olhá-la com a ternura de uma neta que vê na avó uma figura mágica, capaz de sarar uma dor com um simples beijo e de fazer magias na cozinha ou com uma agulha a trabalhar no bastidor. Eu ficava observando-a tentar várias vezes enfiar a linha numa agulha pequenina e me oferecia para ajudá-la, mas ela sempre agradecia e recusava, até que um dia descobri na sua caixa de costura um aparelho pequenino feito de alumínio e ela me esclareceu que era um passador de linha e me explicou como funcionava. Eu fiquei sem entender porque ela enfiava a linha com dificuldade se podia usar o tal aparelhinho. Ela me olhou com suavidade e respondeu que para os pequenos obstáculos a gente devia usar sempre os próprios recursos. E quando indaguei como se deveria fazer com os grandes obstáculos e ela respondeu mansamente que para os grandes obstáculos deveríamos também usar os próprios recursos, e só buscar ajuda de uma outra forma quando todos os nossos recursos tivessem se esgotados. Essa e muitas outras lições foram sendo atualizadas por meus pais através dos anos.
ResponderExcluirA linha do teu poema “cerzindo uma chuva miúda em obstinado silêncio” vasculhou em mim as “ausências traspassadas que vagueavam no meu “alçapão da memória” e a linha enternecida toldou-me a vista de lágrimas de saudade de uma pessoa que tanto representou para mim
Belíssimo poema, meu querido. Grata por trazer-me uma doce lembrança.
Beijos
Belíssimo!
ResponderExcluirNada mais direi, para não ofuscar o brilho do poema.
Beijo!
Decididamente, hoje faço qualquer coisa pra te ver... Lambuzo-me na doçura das amoras e assim lubrificada, passo pelo buraco dessa agulha, se preciso for...
ResponderExcluirÉ sério!
Hahaha, abraços, José Carlos!!!
A chamada da agulha e da linha em movimento oscilante é genial,a traduzir o "diagrama da vida" na perfeição.
ResponderExcluirAbraço
Ziguziguezagueando por aqui para encantar meu dia.
ResponderExcluirTrouxe um pedaço de linha para que sua inspiração seja sempre iluminada.
Tenha um lindo fim de semana, amigo.
Abraços