Por onde anda Émily?
quando ela entrou por aquela
quando ela entrou por aquela
porta
trazia um aroma
e
um rumor
nos lábios acesos e no ar compungido
o melífluo jeitinho de corça
o melífluo jeitinho de corça
me deu uma pontada curta
e
seca mas como os seus
ombros
arfantes revelavam
o desejo ainda entranhado na sua pele
o desejo ainda entranhado na sua pele
esculpi
suas formas delicadas na tarde
ardente
de um janeiro
arfando
a chuva de verão derramada
em
cântaros de cerâmica portuguesa
acho
que ela percebeu pois
no
instante seguinte disse-me segurando
a
respiração
que
era a última vez que nos víamos
fazendo-me
sentir o tamanho do meu corpo
a
baforada de ar que entrou pela janela
aragem
fresca vinda do mar
cortando
o silêncio
me
ajudou a atravessar este rio
latejando
e
com a música do vento já dispersa ela
em
novo gesto pediu que eu fechasse a porta
e
se despiu sem que
os
meus livros a interrogassem
agora
quando eu lavo os pratos sozinho
sinto
o desejo e uma saudade
que
se esboçam
na
nascente dessa ilha.
(José Carlos Sant
Anna)
maneiro
ResponderExcluirai a saudade!
ResponderExcluirA dança hipnotiza, inebria e vicia. Haja vontade e desejo!
Beijos e abraços Carlos
Émily, então, nunca se foi.
ResponderExcluirAbraços, João!
Gostei muito dos "ombros arfantes", em sintonia com a tarde de Janeiro "arfando a chuva de Verão", exigindo o esculpir de Émily. Mas uma dançarina com jeito de corça e ar "compungido" poderá ter tendência a assustar-se e fugir, apesar dos "lábios acesos". Contudo, quando o ar irrompe fortemente e o corpo se engrandece, melhor esquecer as interrogações. E se a ilha ficou distante, quem sabe não existe uma ilha mais próxima, e com maior acessibilidade?...
ResponderExcluirLavar pratos sozinho pode ser realmente um acto de grande solidão.
Foi assim que li o poema.
Bom fim de semana!
xx
A saudade... é sempre o preço a pagar pelos momentos memoráveis, em nossa vida... mas mesmo quando se vão... vale a pena, senti-la!
ResponderExcluirTriste... é não ter o que recordar...
Adorei o poema, Carlos!
Abraço! Um óptimo final de semana!
Ana
Por onde andas?
ResponderExcluirPor entre arfares e ensejos esculpidos em enstantes que se eternizam na lembrança cicatrizada por entre livros e pratos.
Perco-me nesta demanda.
Beijos
Momentos que marcam, que deixam rasto, que enaltecem as brisas...
ResponderExcluirA descrição, muito física, vem do fundo da alma, numa amálgama conciliável.
Muito bem, José Carlos!
Abraço
Me encantaron estos versos:
ResponderExcluir...la bocanada de aire que entraba por la ventana
fresca brisa que viene del mar
cortar el silencio...
Ese silencio que puede escucharse tantas veces sin palabras.
Un placer leerte amigo, me encantan tus visitas a mi blog.
Un beso enorme.
Ah, quando esta Emily entrou por aquela porta trazendo um aroma e um rumor nos lábios acesos e um jeitinho de corça com os ombros arfantes e o desejo ainda entranhado na pele, nunca poderia pensar que um dia estaria sendo lembrada num poema...
ResponderExcluirE entre estes dois momentos, por onde terá andado a Emily?
Lembrará também daquele janeiro ardente onde suas formas delicadas foram esculpidas numa tarde de chuva de verão derramada em cântaros de cerâmica portuguesa... O que terá ela pressentido que a fez dizer ser aquela a última vez que os dois se viam? Faltaram palavras e talvez também tenham faltado gestos. E a palavra emudecida e o gesto não esboçado fazem hoje com que estejas sozinho a lavar os pratos sentindo o “desejo e uma saudade que se esboçam na nascente dessa ilha”...
Ah, meu amigo, muitas vezes por falta de uma palavra ou de um gesto ficamos a amargar uma saudade que fica como um espinho cicatrizado na carne e que de vez em quando ainda fere...
Meu querido, junto dos agradecimentos por todo o carinho e atenção dispensados mesmo na minha ausência, quero deixar sorrisos, quero deixar estrelas, e quero deixar meu carinho,
Lena
Ah, poeta amigo como gosto de te ler...
ResponderExcluirTu tens aquele dom do poeta e do excelente escritor,
que sabe contar uma boa história, descrever uma cena
no ritmo do encantamento...
Pois, bem. A Émily é aquela dançarina que sabe
o que quer, dona da sua dança sedutora que harmoniza
com o teu ritmo poético. Deixa-se uma pista:"cerâmica
portuguesa"...rss
Quanto a porta fechada, as vezes volta a se abrir
para um segundo momento da dança...
Na questão de lavar prato, fez eu me lembrar de uma
amiga (tínhamos o humor e curiosidade sobre as palavras
em comum) e ela comentado sobre gostar de lavar pratos,
que significava uma terapia e na mesma hora nos olhamos
numa explosão de risada com o fato da palavra, tera-pia,
ou seja, a terapia da pia e sempre mencionávamos quando
estávamos lavando pratos, fazendo "terapia"...rss
Tu estavas fazendo "terapia" e nas ondas do pensamento:
A Émily dançando para ti...rss
Desculpa a partilha das minhas bobeiras (percebo que
tu tens senso de humor também).
Afetuoso Abraço, José Carlos!
Por onde andará, Émily,
ResponderExcluirde paradeiro incerto?
A ensaiar coreografias
em saltos de corsinha.
Quem sabe se já por perto...
Vim deixar meu bom dia enquanto me (re)encanto com Émily.
ResponderExcluirPara vc, beijos
Vindo visitar e agradecer por toda a gentileza de suas visitas e pelo tempo a mim dispensado, além desta porta aberta em sua nobre casa; isso não tem preço e, repito, é honra para mim.
ResponderExcluirBeijos e que seu fim de semana seja repleto de alegrias