Era um pouco depois das nove horas da manhã do segundo dia do carnaval, quando o menino, João Pedro, de quatro anos de idade, abandonou a folha de papel na qual fazia uns rabiscos, deixou o seu quarto, vestido de super-homem, em direção à sala de jantar, onde, modorrentamente, se encontrava o seu pai assistindo pela televisão os melhores momentos do primeiro dia do carnaval do país. Aboletou-se de mansinho ao lado dele e ficou imóvel por alguns minutos olhando para o infinito como estivesse à caça de um algum inimigo.
Depois de alguns minutos, assim paralisado, sem que o seu pai lhe desse a mínima atenção, puxou a manga da camisa dele e perguntou:
- Papai, o que vem depois
de um dia?
- Outro dia, meu filho.
- E depois do outro dia?
- Vem outro.
- E depois do outro?
- Vem outro
- É sempre assim?
- Sim, meu filho, é sempre
assim
- Não tem nada diferente?
- Não, meu filho, nada
diferente. Depois de um dia, vem outro; depois, vem outro, outro, outro. É assim a vida, meu filho!
O menino respirou fundo. Em seguida, olhando bem dentro dos olhos do seu pai, disse:
- Ah! Que tédio! Tudo sempre igual na vida da gente.
O menino respirou fundo. Em seguida, olhando bem dentro dos olhos do seu pai, disse:
- Ah! Que tédio! Tudo sempre igual na vida da gente.
(José Carlos Sant Anna)