No cimo, o intruso, numa atitude
subversiva, parece dizer-nos “comprei um chapéu novo”. E repete-o como um
bordão, olhando para todos os lados, para ter certeza de que todos ouvem o que
ele diz. E não precisaria fazê-lo, pois, ainda que não o usasse, estava no alto
das pedras, no píncaro da glória, sobre suas perninhas. Arrogante. “Para que um chapéu se dentro da
sua cabeça há tão somente penas e avoamentos”, perguntou-lhe a mãe inquieta. Fez ouvido moucos para tamanha incontinência, quase a dizer-lhe que o seu poleiro, mesmo de pedras, é um jogo de fantasias. E assobiou chamando seus pares, entre os quais, irmãos, primos e sobrinhos, para a primeira aparição com o seu Panamá, do Equador — diminuto, trazia-no escondido sob as asas —, haja vista, intruso que era, sua exposição no cimo, revelando o conteúdo e a matriz de onde provém o deslocamento do poeta.
(José Carlos Sant Anna)
ResponderExcluirOlá, professor!
rsss, que prosa gostosa, pobrezinho do bichinho ele tem o direito de sentir-se no auge, importante e pensando no seu 'Panamá' para ganhar visibilidade... E assim a gente faz com os humanos!!! rss o final está ótimo!
Beijo, uma ótima semana.
Quanto mais importante é a pergunta, mais tempo precisamos de habitá-la. É o que me acontece com esta sua alegoria. Um pássaro? Arrogante e intruso? Que tinha na cabeça "penas e avoamentos? E o poeta, esse sujeito que se observa a si próprio, observando ou pensando?
ResponderExcluirCom este seu texto fiquei rodeada de perguntas. E as mais preciosas são aquelas que em silêncio me acompanham e se confundem com o que penso e não sei exprimir…
Um beijo meu Amigo José Carlos.
afinal o pássaro é gaivota! lá no alto do pedestal...
ResponderExcluirsinto-me um pouco frustrado. confesso!
teu excelente texto, caro José Carlos, merecia no mínimo um pavão emplumado, em seu esplendor colorido. o pior são as pernas, bem sei!
mas bem vistas as coisas, hoje em dia, não há heróis modernos sem pés (ou pernas) de barro!
forte abraço, caro amigo
A Pi Sol focou uma cena insólita, por intuição atenta
ResponderExcluirao que é belo e/ou expressivo.
O conjunto de pedras revela equilíbrio e inspira
serenidade e logo veio o «intruso» -- amigo de alturas
e soberbias -- alterar a perceção do plácido monumento!
É interessante o seu sentido de humor, meu Amigo.
Gosto de o ler.
Regressando de uma pausa...
Ainda que não seja o seu dia D, tenho um mimo para si
no meu blogue.
Terno abraço, José Carlos.
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Um beijo para a Piedade.
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Adorei este intruso... tão bem materializado na formidável imagem da Piedade... que bem poderia representar uma grande parte da humanidade... enquanto indivíduos... no alto de cada um dos seus próprios poleirinhos... solicitando atenção, cobiça e validação... por qualquer coisa que mereça admiração dos demais... como um chapéu novo, por exemplo...
ResponderExcluirUma alegoria perfeita... para enaltecer o... "eu tenho"... no lugar do... "eu sou"...
Deixando um beijinho, e os meus votos de um feliz fim de semana!... E aproveitando para dizer, que no meu próximo post, muito em breve, estarão umas palavrinhas do José Carlos, em destaque, com o respectivo link, para aqui...
Ana
Fantástico texto. Muito bom!
ResponderExcluirBjos
Votos de um óptimo Domingo.
A natureza sempre me encanta...
ResponderExcluirGosto muito de apreciar essas artes divinas e as humanas... Como foi esta bela inspiração que nos trouxe!
Um abraço carinhoso
Amigo
ResponderExcluirVenho convidá-lo a participar na minha postagem sobre solidariedade.
Desejo dias de tranquilidade e contentamento.
O meu abraço cordial.
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É natural e transversal a ideia do cocuruto onde todos se querem mostrar emplumados, irresistíveis sedutores.
ResponderExcluirTodos animais, bicho ou homem, prezam o Panamá que os distingue na sua imaginação.
O caro Poeta tem uma forma de dizer excelente. A alegoria põe a gente a tirar o penacho e a interrogar-se sobre o sentido das coisas, coça a cabeça e rende-se sem encontrar respostas às questões que saltam debaixo das pedras.
Abraço.
José Carlos, achei maravilhoso este intruso subversivo. Afinal o seu reino é de fantasia," um deslocamento de poeta". E a imagem tão sugestiva!
ResponderExcluirBeijo.
Uma prosa fascinante e gostosa de se ler.
ResponderExcluirJá cá tinha passado mas, só hoje é que vim reler e depsro-me com a minha foto a ilustrar tao belisssima prosa.
muita obrigada
gratidão é tudo o que posso dizer...
comovida e muito agradecida
beijinhos
:)