No meio da sala, entre os livros da sua biblioteca, ela lhe pediu que fechasse a porta. Afobado, ele atendeu o pedido. Segura de que estavam a sós, ela, antes de tomar a iniciativa de tirar a roupa, lhe disse:
—
O cadeado está meio aberto.
Ele
lhe perguntou:
— Meio aberto? Como? Não há meio termo nesses casos — para saber se havia dubiedade na afirmativa que ela fazia.
Ela deixou escapar um riso discreto e meio tímido — ele quase afirmou que, no caso do tímido, havia o meio termo —, e lhe disse:
— O cara ainda não tinha pegado o jeito de abrir cadeado. Era a primeira vez dele. A minha seria a única — por enquanto. Tô esperando por você. E não era um cadeado com segredo. Nunca houve literalmente cadeado com segredo nesses casos. Complacente, às vezes, sim, — deixando escapar outra vez o riso tímido. — Depois ele me tirou da caatinga, do meio do mato e me trouxe para a cidade grande, para que eu me cuidasse. Me cuidei e sou-lhe muito grata. Me tornei uma artista.
Ao
começar a tirar a roupa, ela teve um súbito lampejo e, interrompendo o seu gesto, se demorou
olhando no fundo dos seus olhos, e lhe disse:
—
Por que você demorou tanto a chegar para mim? Eu estava ficando cansada de esperar por
você. Mas eu sabia que você viria. Agora, vem, vem, deixe-me amá-lo grudada às
manchas daquela tela em branco — disse-lhe apontando a tela na parede da
sua sala.
E, ao virar-se para olhar a tela, escorregadia como um sabonete, movediça, ela resvala. Ele alisa a sua barba por fazer ao ver seu objeto de desejo esvair-se pela janela como um rolinho de fumaça.
(José Carlos Sant Anna)
Do Caderno de rascunhos de Tão Preto
Definitivamente hay ilusiones como destellos que nos vuelven a la vida, a la inspiracion y a la belleza, como este texto que has escrito y que nos abre las puertas al mundo de la ensoñacion y de la imaginativa.La musica seleccionada con esa voz preciosa de la interprete sumada al saxo y al clarinete terminan de crear una atmosfera perfecta para el ilusionismo. Precioso!!!Te dejo un fuerte abrazo José Carlos y el deseo de un dia especialmente bonito
ResponderExcluirDemorei-me na leitura, porque já sabia por antecipação que o autor sabe prender a atenção de seus leitores com textos incríveis , surpreendentes e instigantes. Deliciei-me, ouvindo "Si tu vois ma mère" . Penso que todos nós que gostamos de escrever somos um pouco ilusionistas. Precisamos criar mesmo uma "ilusão" para fomentar, alavancar nossa imaginação, nosso tesão, para passarmos relativa " verdade" para os que nos leem. Mas em se tratando de José Carlos Sant Anna, ouso afirmar que ele possui muita magia, porque me encanta com seus textos, e com os comentários que me deixa lá no Sementes.
ResponderExcluirBeijos ... Beijos !!! Sem ilusionismo, mas com boa dose de magia pra ti.
Olá, meu amigo José Carlos, li o seu conto "A Ilusionista" com atenção que de mim exigiu o texto para compreender essa história tão bem arquitetada, não para quem faz uma leitura rápida, mas para o leitor que se sente em meio a um labirinto e que procura saída.
ResponderExcluirGostei imensamente, meu amigo!
Quanto ao vídeo é uma joia, principalmente para nós que gostamos de Jazz. Muito bom.
Uma excelente semana, com os devidos cuidados.
Um texto que surpreende com habilidades de um ilusionista. A cada momento, uma descoberta_ truques engenhosos nos 'rascunhos de Tão Preto' e uma revoada nas nossas mentes.
ResponderExcluirFiquei imaginando um sujeito que não saber abrir cadeados_ é uma parte surpreendente rs pior é que há chaves que se perdem ,pra sempre, com ou sem cadeados. E, há também portas abertas.
Enfim, a ilusão sempre inoportuna(estou só devaneando), bom mesmo é que 'ela se esvai como fumaça' rs
Fica minha admiração e carinho, Jcarlos.
Boa noite e bons dias .
Tantas vezes, na vida o que desejamos muito se esfumaça, porque não passava de uma ilusão, de algo que era apenas uma magia criadora da imaginação. A sua escrita é encantatória, meu Amigo José Carlos.
ResponderExcluirCuide-se bem. Uma semana agradável.
Um beijo.
Llego como ilusión y asi mismo se fue...... Un gusto leerte amigo. Saludos.
ResponderExcluirFantasia literária e ilusão de mãos muito bem dadas.
ResponderExcluirGostei imenso, este trecho é de mestre das palavras.
Bom fim de semana, caro José Carlos.
Abraço.
:)
ResponderExcluirQue dizer, meu caro José Carlos? As coisas são como são, a maturidade, a maturidade que se vai instalando não contempla parceiros. Ou deveria?
Bela prosa.
Grande abraço
"A ilusionista" foi fiel ao título, você amarrou muito bem essa história, prende o leitor até o final, uma técnica sensacional! E lá continuamos nós a procurar o nó do problema! rs
ResponderExcluirUma feliz semana, professor!
Beijo.
Só numa biblioteca os romances são esparsos, como quem abre um livro e logo outro. Entre eles imiscui-se o pensamento a prolongar impressões e sensações.
ResponderExcluirMeu amigo, estava confiante que já tinha deixado um comentário por aqui. Apreciei demais o texto.
Grande abraço, José Carlos.
Un mundo de ilusiones y ensoñación que envuelven tus letras. Muy bueno besos.
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