Quinta-feira, 28 de abril. A onda ainda anda na junção da alegria e do prazer para fechar a tarde. E quão deserta está a rua com as gaivotas perdidas em cima do mar. Ir a Baden só depois que eu terminar de ler a série napolitana de Elena Ferrante, mas não estou esbanjando certezas por conta dos meus afazeres. E ainda que me digas que há um cisne negro no lago de Baden, fico a pensar se não há um anjo torto de beijos tímidos em Lisboa. Mas, nos intervalos, me aposso de uma gleba de versos de Sylvia Plath como um leitor solitário e saio com a cara para cima sem preocupar-me com os carros pelas ruas e avenidas a dizer-me que a poesia dela é impressionante, e que os motoristas têm olhos e boas maneiras. E para não se dizer depois, como sempre se faz em manchete na CNN: ele foi sem se despedir, sem bilhete ou um último beijo, antecipo que já aprendi a vigiar as horas, por isso nada detém minhas mãos na irradiante travessia quando a febre se anuncia e me acompanha desde as esquinas da infância. Enfim, confesso a qualquer japonesinha que apareça na minha frente durante as minhas andanças que são meras pontuações os medos e desejos ocultos. E, antes de degolar os risos de escárnio, antecipo que, por aqui, embora seja outono, parece que se está em pleno deserto, no Saara! E como faz falta nas telas do cinema um beijo em preto e branco.
José Carlos Sant Anna